As cem belas matinés do bairro
Vitor Almeida
De escorregadia etimologia, a palavra bairro abrange hoje uma maravilhosa polissemia, seja em que língua for. Alude a conceber, demarcar, apropriar, particularizar, representar, imaginar, qualificar e significar um dado contexto socio-espacial – um lugar – sem obviamente esquecer a influência da história e do tempo nestas lógicas. A relação entre o bairro e a expressividade do fenómeno urbano tem sugerido tão múltiplos entendimentos que a última sociologia o aborda como algo entre uma região natural e uma região moral. Gostamos desta ideia. É unidade territorial de vida colectiva, um lugar urbano e afectivo, de proximidade e participação – uma escala entre a casa, a rua e a cidade. É sensível, vulnerável, crítico, formal e informal, social e cultural, artístico e poético – é realidade tangível e material, e imaginário. Como o cinema.
O Cinema de Bairro iniciou as suas sessões em Fevereiro de 2016 na Faculdade de Belas Artes, sob uma fantasiosa aspiração de acrescentar uma sala de cinema ao Porto, inspirada naqueloutras de bairro, que durante anos animaram gerações de espectadores. E porque não, contrariando a tendência de encerramento das salas de cinema, devastadora nas últimas décadas na cidade, criando um lugar de cultura pelo cinema que acolhesse quem fosse, abrindo as portas das Belas Artes ao exterior – a toda a gente. Depois, “o grão fará floresta”, como dizia o lema daquele botânico que era fotógrafo.
O projecto surgiu em sequência da iniciativa de estudantes e professores da FBAUP interessados em cinema – em fomentar a cultura do cinema – implementando uma relação crescente com a comunidade – com os estudantes e sobretudo com a população vizinha, que tem assistido às sessões com regularidade e interesse, para nosso contentamento. Desde o início que é um evento gratuito e aberto ao público em geral, começando por oferecer uma programação semanal (em parceria com a Medeia Filmes), fixando-se depois num formato de exibição quinzenal. Nos últimos anos, adoptou-se um registo informal de aula aberta, apresentando-se o filme antes da respectiva sessão.
Ao longo dos anos o ciclo tem assentado numa programação que busca afincadamente a diversidade de géneros e de épocas, valorizando cinematografias clássicas, artísticas e emergentes – sobretudo, o cinema que perpassa. Foram mais ou menos dez filmes americanos, italianos, franceses, brasileiros e ingleses; uma mão cheia ou quase de japoneses, portugueses e alemães; e depois uns quantos russos, coreanos, iranianos e romenos e mais um jugoslavo, um israelita e um finlândes, em contas a grosso. Oportunamente, abriu-se à participação e apresentação de autores e outros artistas como os realizadores Rosemberg Cariry e Saguenail ou o músico José Mário Branco, e amiúde incorporou cumplicidades com festivais como o Porto/Post/Doc, o Cinanima de Espinho e o Curtas Metragens de Vila do Conde. Em 2017, em coordenação com o doutorando Felipe Calheiros, apresentou-se uma edição com sete filmes de outros tantos realizadores brasileiros, formalizando o primeiro ciclo de cinema pernambucano em Portugal. Também assim cumpre o Bairro o seu desígnio exacto – recebe velhos e novos amigos que contribuem para a sua actualidade e consistência enquanto se consolida como um sítio colectivo para se ver e rever bom cinema, e reconhecidamente se torna num bom hábito que já segue na sua 17.ª edição.
O Cinema de Bairro escolheu como primeiríssima atracção um clássico dos anos 50 – o Meu Tio – de Jacques Tati, que nos mostra a vida do Sr. Hulot num bairro tipicamente francês, popular e pitoresco, paredes meias com um mundo moderno, asséptico e sem identidade. Chegados à centésima sessão, vamos cobrir a parada com outro clássico – o filme Do céu caiu uma estrela (1946), de Frank Capra, em que acompanhamos o percurso de sacrifício do protagonista George Bailey empenhado na sua comunidade até ao limite do seu altruísmo e desespero; e é quando a humanidade parece perdida nas mãos dos mais ricos e perversos, que as gentes e os amigos do bairro se mobilizam em solidariedade, numa das cenas mais comoventes e emblemáticas de todo o cinema. E pelo cinema celebramos assim a comunidade, num bairro com lugar para todos, no grande auditório de Belas Artes.
Ritual de Bairro
Bruno Giesteira
Behold the gates of mercy
in arbitrary space
And none of us deserving of the cruelty
or the grace
‘O rito é novo, o hábito já nem tanto — desde 2016, na vivência da cidade e da faculdade, uma parte de mim habita, monasticamente, o cinema de bairro. O ritual é comummente mal entendido na sociedade pragmática actual[1] — repleta de actividades fluídas e descartáveis, há menos tempo para o mito e sua construção, para o ritual que lhe concede forma e significado. Todavia, ser humano é, ainda, ser ritualizador. Na sua acção, mais ou menos mundana, pregnam valores simbólicos enquanto perscruta sentidos. Herskovitz[2] adverte-nos para a necessidade de nos atermos nos aspectos que dão sentido às práticas sociais, e é na cidade que os rituais de partilha e aculturação comunitárias mais têm vindo a perder valor — exigem tempo e permanência, um padrão e procedimentos, amiúde silêncio e empatia.
O cinema de bairro contraria essa tendência. Há oito anos que abriu a porta à cidade, em tom suave de matiné sabatina, e não mais a fechou. Eu, assim sendo, organizo o meu tempo, a minha disposição, o meu desejo — organizo o sentido. Revemos filmes, vemos pela primeira vez, ou revendo vemos como nunca vimos. O programa é diacrónico, não-linear, ecléctico e objectivo. Do noir clássico à nouvelle vague francesa, vemos Welles em Viena e Fritz Lang em Itália, vemos como um russo conta uma infância destruída pela guerra; e revejo a paixão e o desespero de Paris Texas nas belas imagens do alemão Wenders pelo deserto americano — para quando, façamos figas, o seu Until the end of the world? E ouvimos as melodias, a banda sonora, as línguas do mundo e novamente, o silêncio.
Este bairro é também promessa de partilha entre gerações e geografias. Novos e velhos portuenses de muitos portos que ora se cruzam no Palacete Braguinha, numa aula magna que comunga imaginários, de referência ou descoberta. A matiné de sábado é, ainda, o espaço reservado ao usufruto solitário da cidade, longe da rotina familiar ou do ritmo lectivo da faculdade, enquanto é ritual de amor ao cinema. Seja reflexão, recato ou reencontro, é partilha, sempre, e aproximação. Com a minha filha Leonor, de treze anos, vimos tantas histórias e imagens absolutamente indeléveis — pensamos e sentimos, rimos e choramos com a fabulosa Amélie do Jeunet, o emocionante Aftersun da Charlotte Wells, triste, belo e singelo, e o magnífico panorama de cultura e família na Despedida de Lulu Wang. E daqui nos acompanha até hoje uma melodia, o Comehealing[3] numa versão da Elayna Boyton, e que bem alude ao meu sentimento deste bairro.
O solitude of longing
where love has been confined
Come healing of the body
Come healing of the mind
O see the darkness yielding,
that tore the light apart
Come healing of the reason
Come healing of the heart
[1] Armstrong, Karen. A natureza sagrada. Lisboa: Temas e Debates, 2023
[2] Herskovitz, Melville. The man and his works: the science of cultural antthropology. New York: Alfred A. Knopf, 1948
[3] ©Leonard Cohen. Old Ideas, 2012
5 Fev 2016
O meu tio, Jacques Tati, França, 1958
12 Fev 2016
Welcome, Philippe Lioret, França, 2009
19 Feb 2016
Roma cidade aberta, Roberto Rossellini, Itália, 1945
26 Feb 2016
O salão de Jimmy, Ken Loach, Reino Unido, 2014
5 Mar 2016
Minha mãe, Nanni Moretti, Itália, 2015
12 Mar 2016
Barbara, Christian Petzold, Alemanha, 2012
19 Mar 2016
Uma hora incerta, Carlos Saboga, Portugal, 2015
26 Mar 2016
Bom dia, Yasujiro Ozu, Japão, 1959
2 Abr 2016
Depois de maio, Olivier Assayas, França, 2012
9 Abr 2016
O segredo de um cuscuz, Abdellatif Kechiche, Tunísia, 2007
16 Abr 2016
Amnésia, Barbet Schroeder, Suiça, 2015
23 Abr 2016
A dupla vida de Verónique, Krzysztof Kieslowski, Polónia, 1991
30 Abr 2016
Phoenix, Christian Petzold, Alemanha, 2014
7 Mai 2016
As crianças do sacerdote, Vinko Bresan, Croácia, 2013
14 Maio 2016
Os bem amados, Christophe Honoré, França, 2011
21 Maio 2016
Soul kitchen, Fatih Akin, Alemanha, 2009
28 Maio 2016
Um castelo em Itália, Valeria Bruni-Tedeschi, Itália, 2013
4 Jun 2016
Promessas, Emir Kusturica, Jugoslávia, 2007
11 Jun 2016
India song, Marguerite Duras, França, 1975
18 Jun 2016
O miúdo da bicicleta, Jean-Pierre & Luc Dardenne, Bélgica, 2011
25 Jun 2016
Camille Claudel 1915, Bruno Dumont, França, 2013
2 Jul 2016
Intervenção divina, Elia Suleiman, Palestina, 2002
9 Jul 2016
Aaltra, Benoît Delépine, França, 2004
16 Jul 2016
Stalker, Andrei Tarkovsky, Rússia, 1979
23 Jul 2016
Home – Lar doce lar, Ursula Meier
França, 2008
15 Out 2016
Cinema Paraíso, Giuseppe Tornatore, Itália, 1988
29 Out 2016
O fim do outono, Yasujiro Ozu, Japão, 1962
12 Nov 2016
A poeira do tempo, Theo Angelopuolos, Grécia, 2008
26 Nov 2016
Curtas Cinanima, AA VV, Portugal
10 Dez 2016
Cópia certificada, Abbas Kiarostami, Irão, 2011
21 Jan 2017
Festa de Babette, Gabriel Axel, Dinamarca, 1989
4 Feb 2017
Uma pastelaria em Tóquio, Naomi Kawase, Japão, 2015
18 Feb 2017
A rapariga de 14 de julho, Antonin Peretjatko, França, 2013
4 Mar 2017
Noutro país, Hong Sangsoo, Coreia do Sul, 2012
18 Mar 2017
Paris Texas, Wim Wenders, EUA, 1984
1 Abr 2017
Volver, Pedro Almodóvar, Espanha, 2006
8 Abr 2017
O quadro negro, Samira Makhmalbaf, Irão, 2000
15 Abr 2017
Morangos silvestres, Ingmar Bergman, Suécia, 1957
29 Abr 2017
Verão de Kikujiro, Takeshi Kitano, Japão, 1999
13 Mai 2017
Palombella rossa, Nanni Moretti, Itália, 1989
28 Mai 2017
Recordações da casa amarela, João César Monteiro, Portugal, 1989
17 Jun 2017
Baile perfumado, Lírio Ferreira & Paulo Caldas, Brasil, 1996
1 Jul 2017
O som ao redor, Kleber Mendonça Filho, Brasil, 2012
8 Jul 2017
Viajo porque preciso, volto porque te amo, Marcelo Gomes & Karim Ainouz, Brasil, 2009
15 Jul 2017
Um lugar ao sol, Gabriel Mascaro, Brasil, 2009
22 Jul 2017
Tatuagem, Hilton Lacerda, Brasil, 2013
29 Jul 2017
Doméstica, Gabriel Mascaro, Brasil, 2012
23 Set 2017
Decrescente, Saguenail, França, 2016
7 Out 2017
Eu, Daniel Blake, Ken Loach, Reino Unido, 2016
21 Out 2017
Cyrano de Bergerac, Jean-Paul Rappeneau, França, 1990
4 Nov 2017
Olhos negros, Nikita Mikhalkov, Rússia, 1987
18 Nov 2017
Os pobres diabos, Rosemberg Cariry, Brasil, 2013
2 Dez 2017
Porto/Post/Doc, AA VV, Portugal
16 Dez 2017
Ma loute, Bruno Dumont, França, 2016
6 Jan 2018
Tudo sobre a minha mãe, Pedro Almodóvar, Espanha, 1999
20 Jan 2018
Blue velvet, David Lynch, EUA, 1986
3 Feb 2018
Dolce vita, Federico Fellini, Itália, 1960
17 Feb 2018
Mystery train, Jim Jarmusch, EUA, 1989
3 Mar 2018
Chuva de pedras, Ken Loach, Reino Unido, 1993
17 Mar 2018
Barry Lyndon, Stanley Kubrick, EUA, 1975
31 Mar 2018
Corisco e Dadá, Rosemberg Cariry, Brasil, 1996
14 Abr 2018
Visita da banda, Eran Kolirin, Israel, 2007
28 Abr 2018
Nostalgia, Andrei Tarkovsky, Rússia, 1985
12 Mai 2018
Glória, Kristina Grozeva + Petar Valchanov, Bulgária, 2016
26 Mai 2018
Our Sunhi, Hong Sangsoo, Coreia do Sul, 2013
9 Jun 2018
Ariel, Aki Kaurismaki, Finlândia, 1988
23 Jun 2018
Pierrot le fou, Jean-Luc Godard, França, 1965
7 Jul 2018
Round midnight, Bertrand Tavernier, França, 1986
21 Jul 2018
Local hero, Bill Forsyth, Reino Unido, 1983
20 Out 2018
Terra em transe, Glauber Rocha, Brasil, 1967
3 Nov 2018
O concerto, Radu Mihaileanu, Roménia, 2009
17 Nov 2018
Drowning by numbers, Peter Greenaway, Reino Unido, 1990
1 Dez 2018
O navio, Federico Fellini, Itália, 1987
15 Dez 2018
O castelo no céu, Hayao Miyazaki, Japão, 1986
29 Dez 2018
Starting over, Alan J. Pakula, EUA, 1979
9 Feb 2019
Crepúsculo dos deuses, Billy Wilder, EUA, 1950
23 Feb 2019
O baile, Ettore Scolla, Itália, 1983
9 Mar 2019
Sicilia!, Jean-Marie Straub + Danièlle Huillet, França, 1999
23 Mar 2019
Segredos e mentiras, Mike Leigh, Reino Unido, 1996
6 Abr 2019
Zelig, Woody Allen, EUA, 1983
20 Abr 2019
Tempo dos ciganos, Emir Kusturica, Jugoslávia, 1988
4 Mai 2019
Linha vermelha, José Filipe Costa, Portugal, 2011
18 Mai 2019
Praias de Agnès, Agnès Varda, França, 2008
1 Jun 2019
Vinhas da ira, John Ford, EUA, 1940
15 Jun 2019
Crooklyn, Spike Lee, EUA, 1994
29 Jun 2019
4 meses, 3 semanas e 2 dias, Cristian Mungiu, Roménia, 2007
13 Jul 2019
Asas do desejo, Wim Wenders, Alemanha, 1987
27 Jul 2019
Rosencrantz and Guildenstern are dead, Tom Stoppard, Reino Unido, 1990
19 Set 2019
Nausicaa, Hayao Miyazaki, Japão, 1984
12 Out 2019
A grande beleza, Paolo Sorrentino, Itália, 2013
26 Out 2019
Xavante – o povo do Sol Nascente, Rosenberg Cariry + Divino Tserewahú, Brasil, 2017
9 Nov 2019
Violência e paixão, Luchino Visconti, Itália, 1974
23 Nov 2019
O homem elefante, David Lynch, EUA, 1981
7 Dez 2019
Às 5 da tarde, Samira Makhmalbaf, Afeganistão, 2003
21 Dez 2019
Os livros de Próspero, Peter Greenaway, Reino Unido, 1992
8 out 2020
Night on earth, Jim Jarmusch, EUA, 1991
7 nov 2020
A verdade inacreditável, Hal Hartley, EUA, 1989
21 nov 2020
O gosto dos outros, Agnès Jaoui, França, 2000
5 dez 2020
Sonatine, Takeshi Kitano, Japão, 1993
19 dez 2020
Do céu caiu uma estrela, Frank Cabra, EUA, 1946
2 Jul 2022
Decameron, Pier Paolo Pasolini,
1971, Itália
16 Jul 2022
Yi Yi, Edward Yang,
2000, Taiwan
30 Jul 2022
O Homem Tranquilo, John Ford,
1952, EUA
22 Out 2022
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Jean-Pierre Jeunet,
2001, França
5 Nov 2022
Climas, Nuri Bilge Ceylan,
2006, Turquia
19 Nov 2022
O Desprezo, Jean-Luc Godard,
1963, França
3 Dez 2022
Os Tenenbaums, Wes Anderson,
2001, EUA
17 Dez 2022
Sayat Nova - A Cor da Romã, Sergei Paradjanov
1969, URSS\Arménia
21 Jan 2023
Digo às Companheiras Que Aqui Estão, Sophia Branco + Luís Henrique Leal
2022, Brasil
25 Mar 2023
O Amigo Americano, Wim Wenders
1977, Alemanha/França
8 Abr 2023
O Terceiro Homem, Carol Reed
1949, EUA
22 Abr 2023
Kelin, Ermek Tursunov
2009, Cazaquistão
6 Mai 2023
Pather Panchali, Satyajit Ray
1955, Índia
20 Mai 2023
Elephant, Gus Van Sant
2003, EUA
3 Jun 2023
A Infância de Ivan, Andrei Tarkovsky
1969, URSS
17 Jun 2023
Aftersun, Charlotte Wells
2022, Reino Unido
1 Jul 2023
Contos da Lua Vaga, Kenji Mizoguchi
1953, Japão
15 Jul 2023
A Despedida, Lulu Wang
2019, EUA/China
29 Jul 2023
Minnie e Moskowitz, John Cassavetes
1971, EUA
13 Set 2023
A Princesa Mononoke, Hayao Miyazaki
1997, Japão
21 Out 2023
Querido Diário, Nanni Moretti
1993, Itália
4 Nov 2023
A lancheira, Ritesh Batra
2013, Índia
18 Nov 2023
O Último ano em Marienbad, Alain Resnais
1964, França
2 Dez 2023
Punch-Drunk Love, Paul Thomas Anderson
2002, EUA
16 Dez 2023
O meu vizinho Totoro, Hayao Miyasaki
1988, Japão
Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade
Faculdade de Belas Artes
Universidade do Porto
Avenida Rodrigues de Freitas, 265
4049-021 Porto
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, I.P., no âmbito do projecto UIDP/04395/2020